Doce ilusão


O estalos de uma garoa arranjada costuram, com linhas escuras, o céu lá fora. E arrasta pra cá, antecipadamente, o silêncio negro de um noite inquieta.
Algumas gotas finas parecem bailar aleatoriamente pelo ar e somem sem tocar o chão. Enquanto outras, com ar de desespero se jogam sem pensar e, como suicidas, se quebram no solo.
Os minutos não saem do lugar, mas a garoa que antes continha um ar de graça e ingenuidade, agora, conquista força e maioridade.
E ao ritmo de uma tempestade jovem, o receio pulsa forte.
Com o medo roçando a ponta dos dedos, ela quase abraça o desespero. E, em tempo, com as mãos frias tapa os ouvidos e cega os olhos com as pálpebras.

Até os ponteiros já sentem frio. E, por medo, o tic-tac do relógio anuncia um adeus desajustado. Agora, tudo parece imóvel aqui.

Quando, de surpresa, um som vindo da sala suaviza o frio de medo que apalpa os longos fios castanhos do cabelo jovem e, de leve, cria algumas notas de graça no velho piano Steinway.
O ritmo avança com veracidade as teclas empoeiradas e, com uma combinação de toques afiados, o volume alto soa chamando a atenção, ensurdecendo as vozes de chuva que, insistentes, ainda se penduram pela vidraça.
A curiosidade entra em cena e, jogando todo seu charme, provoca. Os traços delicados de garota já não resiste ao curioso e, então, ela abre os olhos. Mas, as extremidades cegas da noite limitam o olhar jovem.
Ainda assim, ela acorda a coragem e afasta-se direcionando os passos pelo corredor, apalpando com insegurança as paredes escuras.
O som do piano parece correr, em passos certeiros, de encontro a ela e, com força, abraça o medo restante, entorpecendo os sentidos. É como se as notas, com leveza e suavidade, dançassem graciosas pelo corredor, conduzindo-a até o centro da sala.
Ao toque leve e preciso de Comptine D'Un Autre Ete L'Apres Midi, os traços de garota iam surgindo tímidos na porta lateral da velha sala.
E agora sim, ela parecia poder enxergar tudo, ainda que o ambiente estivesse banhado pelo breu.
E lá estava. No canto direito da sala, lá estava ele. Concentrando uma beleza absurda na superfície das teclas.
Com uma confiança precisa na ponta dos dedos ele seguia o toque, redesenhando cada nota e transformando-as na canção predileta da jovem com traços delicados.
Ele voltara, como em dias de tempestades, para espantar daqui o medo.Doce ilusão. Pobre garota. Nada mais era real, como foi um dia.
Ele voltara sim, mas por poucas horas. Somente em tempos de tempestades e solidão.
Mas, no fundo, ela já sabia quase sem querer, que a chuva acalmaria e a doce ilusão se tornaria, outra vez, apenas uma lembrança amarga.

21 comentários:

  1. Estava sumida, não?
    eu gosto da sua escrita.
    um beijo

    ResponderExcluir
  2. Ola amiga!Obrigada pela visita!Q bom ve-la de volta!
    O blog ta lindo!
    E o texto,é mais que uma doce ilusao!Lindo como escreve!

    Adorei!

    Beijos!

    ResponderExcluir
  3. Minha linda, saudadeeeee também!!!
    Minha vida tá corrida, voada, mas fiquei feliz demais em te ver aqui.
    Além do blog lindo, da menina linda, você continua escrevendo lindamente.

    E no fundo, como você diz, tudo volta um dia a ser lembranças.
    Doces ou amargas, mas lembranças...

    Um beijo e um abraço gigante!!!!!!

    ResponderExcluir
  4. Saudades de você....
    não suma tanto não... que nos faz falta...

    nada mais doloroso que eu ilusão... e é o que mais forte nos lembramos depois...

    bjos querida
    otima semana pra ti

    ResponderExcluir
  5. Adorei a visita e te sigo tb. Lindo blog.

    Bjs

    ResponderExcluir
  6. desculpa a demora pra ler...
    meio ocupado essa semana...
    =B
    mas sim...
    texto grande desta vez né!!!
    *-*
    e ótimo como sempre...
    adoro teu jeito de escrever...
    gostaria de ter metade da tua criatividade...
    shauishaiushauishaiusaiushaiusha...
    e senti tua falta por aqui...
    não suma novamente...
    =***
    se cuida...

    ResponderExcluir
  7. doces ilusões.. que voltam apenas em dias de tempestade!! LINDO POST, demorei pra voltar por aki, mas continuas surpreendente!! bjus flor

    ResponderExcluir
  8. Amei teu blog,gostei tanto que resolvi ficar,já estou a te seguir e eu sempre estarei aqui a te lêr e comentar bjos de bom dia.

    ResponderExcluir
  9. "a chuva acalmaria e a doce ilusão se tornaria, outra vez, apenas uma lembrança amarga"
    Muuuito bom Ana, pra manter o costume né haha ;*

    ResponderExcluir
  10. Tem um selinho pra você neste link: http://freescura.blogspot.com/2011/04/selo-que-seja-sempre-doce.html

    beijão :*

    ResponderExcluir
  11. Com o passar do tempo tudo aquilo do passado não vei nem coçar nos anseios do seu presente.

    ResponderExcluir
  12. Rebloguei essa postagem no meu blog, coloquei em baixo o link do seu.
    Entre em contato comigo caso, queira que eu tire seu texto do meu blog.
    Beijos :*
    http://particularidadesalheia.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  13. Pena que momentos como esses durem tão pouco. Mas são a soma deles que fazem a vida ser tão bela!

    ResponderExcluir
  14. Muito lindo.
    Adorei!
    Beijos meus querida amiga e um bom final de semana pra ti!

    ResponderExcluir
  15. que lindo, saudade de passar por aqui. beijo

    ResponderExcluir
  16. Meu deus Aninha .... Seus textos são simplesmente incríveis. Esse então me deixou super curiosa, engoli cada palavra até me deparar com esse final que me abalou até a alma.
    Você alguma vez já pensou em escrever um livro? Pois pense, você se daria super bem (:
    beijos. :*

    ResponderExcluir
  17. Surpreendente seu texto, muito lindo mesmo!
    Estou a te seguir também!
    Nada mais amargo, do que uma doce ilusão que volta a ser apenas uma lembrança!
    beeijo ;*

    ResponderExcluir
  18. De um jeito ou de outro você sempre descreve cada centímetro de tudo. Quase nos obrigando a viver o texto.

    Sempre bom voltar aqui.

    ResponderExcluir